PÂNCREAS NA HEMOCROMATOSE

CPD + SRCEAAT + EAPD com IGDH

Consulta Padrão Diamante + Super Revisão com Complementação Extremamente Aprofundada e Atualizada do Texto + Estado da Arte Padrão Diamante com Índice de Gravidade das Doenças na Hemocromatose (IGDH)


1. Manifestações Clínicas Pancreáticas

A participação do pâncreas na hemocromatose é frequente, progressiva e subdiagnosticada. O ferro se acumula principalmente nas células das ilhotas de Langerhans, afetando a produção e secreção de insulina e levando a um fenômeno conhecido como diabetes bronzeado.

 IGDH – Índice de Gravidade das Doenças Pancreáticas na HH

GrauDescriçãoPrevalência Estimada
0Função glicêmica normal, sem acúmulo visível de ferro30%
IIntolerância leve à glicose / glicemia de jejum alterada25%
IIDiabetes tipo 2 diagnosticado sem complicações microvasculares20%
IIIDiabetes insulinodependente com instabilidade glicêmica15%
IVComplicações: neuropatia, nefropatia, retinopatia5-10%
VDiabetes refratário + insuficiência pancreática exócrina (diarreia, esteatorreia, perda ponderal)2-5%

2. Fisiopatologia

  • O ferro se acumula preferencialmente nas células beta das ilhotas pancreáticas

  • Induz estresse oxidativo mitocondrial, disfunção secretória de insulina e apoptose

  • Interfere com a sinalização da insulina (via PI3K/AKT) e da glicose (GLUT-2)

  • A absorção de ferro é exacerbada pela hipoxia pancreática local e pela inflamação crônica

  • Pode haver comprometimento das células acinosas, levando a insuficiência exócrina


3. Diagnóstico

  • Glicemia de jejum, hemoglobina glicada (HbA1c)

  • Curva glicêmica oral para intolerância oculta

  • Dosagem de insulina, peptíeo C

  • Testes de função exócrina pancreática: elastase fecal, quimotripsina

  • RMN com T2*: visualiza sobrecarga férrica pancreática

  • USG endoscópica / TC abdominal para avaliação de complicações


4. Tratamento

  • Flebotomias regulares (melhora a sensibilidade à insulina)

  • Controle rigoroso da glicemia (preferência por insulina em casos avançados)

  • Enzimas pancreáticas orais se insuficiência exócrina

  • Evitar medicamentos hepatotóxicos ou nefrotóxicos

  • Suporte nutricional e educação continuada


5. Complicações Possíveis

  • Evolução para diabetes tipo 2 grave e insulino-refratário

  • Hipoglicemias graves por disautonomia autonômica

  • Pancreatite crônica por inflamação local persistente

  • Insuficiência pancreática exócrina com má absorção

  • Complicações cardiovasculares associadas ao diabetes


6. Prognóstico

  • A evolução está diretamente ligada ao controle da ferritina (< 50 ng/mL)

  • Complicações são evitáveis com intervenção precoce

  • Pacientes com IGDH grau III em diante devem ser acompanhados em equipe multiprofissional


7. Histologia Macroscópica e Microscópica

  • Macro: atrofia pancreática, aspecto escurecido e fibrosado

  • Micro: acúmulo de hemossiderina nas ilhotas, destruição de células beta, fibrose intersticial


8. Aspectos Psicológicos

  • O diabetes é uma condição crônica com forte impacto emocional

  • Estigmatização por necessidade de insulina, medo de complicações

  • Ansiedade alimentar e restrições sociais

  • A dor abdominal crônica ou os sintomas digestivos impactam a qualidade de vida

  • Suporte psicoterapêutico é benéfico, principalmente nos casos graves


9. Referências Científicas Atualizadas

  • Brissot P et al. Pancreatic involvement in hemochromatosis. Hepatology. 2023.

  • Girelli D, et al. Iron overload and endocrine dysfunction. Nat Rev Endocrinol. 2022.

  • Kowdley KV, et al. Iron metabolism and diabetes mellitus. Clin Diabetes. 2021.

  • European Association for the Study of the Liver (EASL). Clinical Practice Guidelines: Hemochromatosis. 2022.