
Apresentação Resumida da Classificação das Hemocromatoses
I. Hemocromatoses Hereditárias (Primárias)
Tipo 1 – Clássica (HFE)
Mutação mais comum: C282Y, associada à forma clínica típica
Outras mutações: H63D e S65C
Início: geralmente após os 30–40 anos (mais precoce em homens)
Prevalência alta em populações de origem europeia (até 1:200 homozigotos C282Y)
Tipo 2 – Hemocromatose Juvenil
Genes: HJV (tipo 2A), HAMP (tipo 2B)
Início: adolescência ou início da vida adulta
Quadro grave precoce: cardiomiopatia, hipogonadismo, falência hepática
Herança: autossômica recessiva
Tipo 3 – Mutação do Receptor da Transferrina (TfR2)
Rara, quadro clínico semelhante ao tipo 1, porém em pacientes mais jovens
Diagnóstico por sequenciamento do gene TfR2
Tipo 4 – Doença da Ferroportina (SLC40A1)
Herança autossômica dominante
Dois subtipos:
Tipo 4A (ferroportina clássica): ferritina alta, saturação da transferrina normal
Tipo 4B: com saturação elevada
Mecanismo: mutações com ganho ou perda de função na ferroportina
Outras Formas Genéticas Raras
Genes: FTL (ferritina leve), SLC11A2 (DMT1), CP (ceruloplasmina)
Exigem sequenciamento completo ou exoma clínico em casos não explicados
II. Hemocromatoses Secundárias
Estas formas não são causadas por mutações primárias nos genes reguladores do ferro, mas sim por condições clínicas adquiridas que levam ao acúmulo progressivo de ferro.
Causas Secundárias Comuns:
Transfusões repetidas (ex: talassemia major, anemia falciforme, MDS)
Hemólise crônica (anemias hemolíticas autoimunes, PNH)
Hepatopatias: hepatite viral crônica, NASH, etilismo
Doenças hematológicas: mielodisplasia, leucemias, linfomas
Síndromes metabólicas com inflamação crônica
Sobrecarga medicamentosa: ferro oral/parenteral excessivo
Observações Importantes:
Ferritina pode estar elevada na ausência de sobrecarga (ex: inflamação crônica)
O diagnóstico diferencial exige dosagem de saturação da transferrina e exclusão etiológica cuidadosa
III. Classificação Clínica e Bioquímica Complementar
Tipo | Ferritina | Saturação da Transferrina | Idade | Genética Comum |
---|---|---|---|---|
Tipo 1 | ↑↑ | ↑↑ | >30 anos | HFE C282Y |
Tipo 2 | ↑↑↑ | ↑↑↑ | <30 anos | HJV, HAMP |
Tipo 3 | ↑↑ | ↑↑ | Jovens | TfR2 |
Tipo 4A | ↑↑ | Normal/↓ | >30 anos | SLC40A1 |
Secundária | ↑ | Variável | Qualquer idade | Nenhuma mutação primária |
A correta classificação da hemocromatose impacta diretamente na conduta clínica, no rastreamento de familiares e na abordagem terapêutica.
Por isso, além de exames laboratoriais, a análise genética específica e a avaliação de contexto clínico são fundamentais para evitar erros diagnósticos evolução silenciosa e tratamentos desnecessários.