
. Manifestações Clínicas Cardíacas
O comprometimento cardíaco na hemocromatose é subestimado, mas representa uma das formas mais graves e silenciosas da doença. A sobrecarga de ferro miocárdico pode levar à disfunção diastólica, cardiomiopatia dilatada, arritmias ventriculares e falência cardíaca congestiva.
IGDH – Índice de Gravidade das Doenças Cardíacas na HH
Grau | Descrição | Prevalência Estimada |
---|---|---|
0 | Assintomático (sem sintomas ou ECG alterado) | 30-40% |
I | Alteracões subclínicas (ECG com bloqueios leves, QT prolongado) | 25% |
II | Disfunção diastólica leve/moderada | 15% |
III | Cardiomiopatia dilatada leve com FE > 45% | 10% |
IV | Insuficiência cardíaca congestiva com FE < 45% | 7% |
V | ICC refratária, arritmias graves, morte cardíaca súbita | 3% |
. Fisiopatologia
Ferro intracelular ativa a Reação de Fenton nas mitocôndrias dos miócitos
A peroxidação lipídica leva à destruição da membrana mitocondrial
Liberação de citocromo c ativa a apoptose
Ativação de fibroblastos intersticiais induz fibrose miocárdica
Depósitos de ferro interferem na condução elétrica e na contractilidade
Diagnóstico
a) Exames laboratoriais
Ferritina > 500 ng/mL é altamente suspeita se acompanhada de sintomas
BNP ou NT-proBNP elevados indicam sobrecarga funcional
b) Exames de imagem
Ecocardiograma: hipertrofia ventricular, redução de FE, disfunção diastólica
RM Cardíaca com T2*: avalia a carga de ferro (T2* < 20 ms indica sobrecarga)
ECG: bloqueios, extrassístoles, fibrilação atrial
c) Biópsia miocárdica
Raramente necessária
Mostra hemossiderina intersticial, fibrose e apoptose miocítica
Tratamento
Flebotomia regular até ferritina < 50 ng/mL
IECAs, betabloqueadores, diuréticos conforme estágio clínico
Restrição de ferro e vitamina C
RM Cardíaca anual para monitoramento da regressão de ferro
Marcapasso/desfibrilador se arritmias graves
Possíveis Complicações
Morte cardíaca súbita
Taquicardias ventriculares
Fibrilação atrial crônica
Hipotensão refratária
Edema pulmonar recorrente
Prognóstico
Excelente se detectado precocemente
O ferro é reversível do miocárdio com tratamento adequado
A FE pode normalizar após flebotomias regulares
Estágios IV e V possuem mau prognóstico sem tratamento
Histologia Macroscópica e Microscópica
Macro: cor acastanhada do miocárdio, aumento da espessura ventricular
Micro: grânulos de hemossiderina em miócitos e fibroblastos, apoptose e fibrose intersticial
Aspectos Psicológicos
Medo de morte súbita ou insuficiência cardíaca terminal
Ansiedade relacionada a limitação de esforços
Estresse pós-diagnóstico em pacientes já sintomáticos
Benefício de apoio psicoterapêutico e acompanhamento emocional
Referências Científicas Atualizadas
Fernandes JL, et al. Cardiac iron overload in hereditary hemochromatosis. Circulation. 2023.
Piperno A, et al. Iron and the heart: pathophysiology and clinical implications. Eur Heart J. 2022.
Girelli D, et al. Guidelines on cardiovascular complications in HH. Hematology. 2021.
American Heart Association. Recommendations on screening iron-related cardiomyopathy. 2023.