🏛️ Estadiamento da Hemocromatose:
Do Acúmulo Inicial à Complicação Orgânica
Guia de Avaliação Progressiva para Decisão Clínica
📘 1. Introdução
O estadiamento da hemocromatose é essencial para compreender a evolução da doença e guiar as decisões clínicas.
A sobrecarga férrica desenvolve-se de forma silenciosa e progressiva, atravessando estágios bioquímicos, histopatológicos e clínicos.
Um sistema de estadiamento adequado permite avaliar a gravidade, identificar risco de complicações e indicar o momento ideal para iniciar ou modificar o tratamento.
✔️ 2. Estágios Evolutivos da Hemocromatose
🔹 Estágio 0 – Latente ou Silencioso
Mutações genéticas presentes
Ferro e ferritina normais
Nenhuma manifestação clínica
Exames genéticos podem ser positivos
🔹 Estágio 1 – Bioquímico Inicial
Saturação da transferrina >45%
Ferritina levemente elevada
Sem sintomas ainda
Risco aumentado de progressão se não tratado
🔹 Estágio 2 – Sobrecarga Teoricamente Reversível
Ferritina >300 ng/mL (homens), >200 ng/mL (mulheres)
Saturação frequentemente >60%
Início da deposição hepática e miocárdica
Possível fadiga, hipogonadismo inicial
USG hepática pode mostrar esteatose leve
🔹 Estágio 3 – Fibrose Avançada ou Cirrose
Ferritina >1000 ng/mL
Fibrose comprovada por elastografia (≥9-12 kPa) ou bíopsia hepática
Início de sintomas articulares, endocrinopatia, pele bronzeada
Risco elevado de CHC (carcinoma hepatocelular)
🔹 Estágio 4 – Hemocromatose Complicada
Disfunção de órgãos múltiplos: coração, fígado, pâncreas, SNC
Cirrose estabelecida com hipertensão portal
CHC presente ou altamente suspeito
Complicações irreversíveis
🔍 3. Ferramentas Diagnósticas para Estadiamento
⚖️ Avaliação Bioquímica
Ferritina sérica
Saturação da transferrina
Ferro sérico, TIBC (capacidade total de ligação do ferro)
🎨 Avaliação Hepática por Imagem
Ultrassonografia (USG): esteatose, textura hepática
Elastografia (FibroScan): avalia rigidez hepática
<7 kPa: normal
7-9 kPa: fibrose leve
9-12 kPa: fibrose moderada a grave
12 kPa: alto risco de cirrose
🩸 Bíopsia Hepática
Considerada padrão ouro quando elastografia for inconclusiva
Permite avaliar grau de fibrose e deposição de ferro (escala de Deugnier ou Scheuer)
📊 Exames Complementares
Ressonância magnética com T2*: quantifica ferro hepático e miocárdico
Exames hormonais, ECG, ecocardiograma, hemoglobina A1c
✅ 4. Aplicabilidade Clínica
Estágios 1-2: indicam tratamento preventivo com flebotomias precoces
Estágio 3: requer monitoramento rigoroso e rastreio para CHC
Estágio 4: manejo multidisciplinar, avaliação para transplante hepático
📜 5. Conclusão
O estadiamento da hemocromatose permite não apenas compreender a carga total de ferro no organismo, mas também planejar intervenções personalizadas, evitando complicações irreversíveis.
O uso racional de exames simples (como a USG e a ferritina) aliado a exames sofisticados (elastografia e testes genéticos) representa o novo padrão de ouro no manejo progressivo da doença.
.
Linha cronológica horizontal com 5 estágios:
Estágio 0 – Genótipo Positivo Sem Sintomas
Mutante HFE ou outros genes
Ferritina e transferrina normais
Sem sintomas clínicos
Acompanhamento familiar
Estágio 1 – Sobrecarga Bioquímica Leve
Ferritina entre 200–400 ng/mL
Transferrina >45%
Hepcidina baixa
Início da flebotomia preventiva
Estágio 2 – Sintomático Moderado
Cansaço, artralgia, hipogonadismo
Ferritina 400–1000 ng/mL
Ressonância com sobrecarga moderada
Controle multiprofissional
Estágio 3 – Lesão Orgânica
Fibrose hepática, diabetes, arritmia
Ferritina >1000 ng/mL
Elastografia >10 kPa
Abordagem integrada com especialistas
Estágio 4 – Complicações Graves
Cirrose, hepatocarcinoma, IC, artropatia grave
Ferritina >1500 ng/mL
Biópsia positiva
Risco vital: vigilância oncológica