
1. Manifestações Clínicas
O acometimento imunológico na hemocromatose (HH) é frequentemente subestimado. No entanto, os distúrbios imunes associados à sobrecarga férrica apresentam-se de forma sutil, progressiva e sistêmica, contribuindo significativamente para:
Suscetibilidade aumentada a infecções oportunistas (Listeria, Vibrio, Yersinia)
Estados de inflamação crônica estéril, com fadiga persistente
Desencadeamento ou piora de doenças autoimunes (psoríase, artrite, tireoidites)
Disfunção vacinal e hiporreatividade a antígenos
Possível contribuição para neuroinflamação, imunossenescência precoce e alterações endoteliais
2. Fisiopatologia
A impregnação tecidual por ferro interfere na imunidade inata e adaptativa por múltiplos mecanismos:
a) Ferro e o Estresse Oxidativo Imunotóxico
Reações de Fenton geram radicais hidroxila (•OH) → dano oxidativo celular
Ativação de inflamassomas (ex: NLRP3) → secreção de IL-1β e IL-18
Ferro desregula a sinalização do NF-κB e da via JAK/STAT → inflamação sistêmica silenciosa
b) Efeitos sobre Linhagens Celulares
Célula Imune | Alterações Induzidas pelo Ferro |
---|---|
Macrófagos | Shift para fenótipo M1, redução da fagocitose, aumento de citocinas |
Neutrófilos | Diminuição da quimiotaxia e NETosis alterada |
Linfócitos T | Redução de Tregs, aumento de Th17 inflamatórios, exaustão por PD-1/CTLA-4 |
Linfócitos B | Produção de anticorpos subótima, hipogamaglobulinemia funcional |
NK Cells | Redução de NKG2D e atividade citotóxica |
c) Eixo Intestino-Fígado-Imunidade
Ferro livre promove disbiose, aumenta LPS circulante e ativa TLR4
Redução de butirato e da integridade da barreira epitelial intestinal
Potencial quebra de tolerância imunológica mucosa
3. Diagnóstico
A avaliação imunológica deve considerar:
Hemograma com diferencial linfocitário
Dosagem de imunoglobulinas séricas
Citometria de fluxo para subpopulações T/B/NK
Níveis séricos de IL-6, TNF-α, IL-1β, IL-18
Avaliação da resposta vacinal (anti-HBs pós-vacinação)
Endotoxemia (LPS) e calprotectina fecal para disbiose intestinal
4. Tratamento
a) Controle da Sobrecarga Férrica
Flebotomia regular mantendo ferritina < 50 ng/mL
Quelantes (ex.: deferasirox) em casos especiais
b) Intervenções Imunonutricionais
Vitamina D3, curcumina, quercetina e N-acetilcisteína
Dieta anti-inflamatória (pobre em ferro heme e açúcares)
Suporte à microbiota com fibras prebióticas e probióticos
c) Imunomodulação Integrativa
Terapias florais de Bach e Bush Australiano para estados de fadiga e vulnerabilidade crônica
Meditação, sono adequado, banhos de luz solar
Apoio emocional e espiritual como pilares complementares
5. Possíveis Complicações
Infecções graves por bactérias siderófilas (ex: septicemia por Vibrio vulnificus)
Doenças autoimunes desencadeadas ou agravadas
Redução da vigilância imunológica antitumoral
Progressão para imunossenescência e disfunção vacinal em idosos
6. Prognóstico
O desfecho imunológico depende de:
Carga total de ferro e duração da sobrecarga
Preexistência de doenças autoimunes latentes
Resposta terapêutica ao tratamento desferropenicante
Capacidade adaptativa do sistema antioxidante celular
Com tratamento precoce e abordagem integrativa, é possível reverter a maioria das disfunções imunológicas leves a moderadas.
7. Histologia Microscópica e Macroscópica
Infiltrado linfocitário discreto no fígado e pele
Hemossiderina em macrófagos de linfonodos
Atrofia de centros germinativos em casos avançados
Baço congesto com hiperplasia de polpa vermelha
8. Referências Científicas Atualizadas
Girelli D et al. Iron and immunity: A molecular symphony. Nat Rev Immunol. 2022.
Ward DM, Kaplan J. Iron overload and host defense. Blood. 2021.
Torti SV et al. Iron metabolism and immune modulation in HH. J Immunol Res. 2023.
Brissot P et al. Immunological insights in hereditary hemochromatosis. Hepatol Int. 2023.
9. Aspectos Psicológicos
Pacientes com imunodepressão crônica sentem-se vulneráveis, muitas vezes inseguros
A fadiga constante, associada ao estado inflamatório e imunológico subclínico, afeta autoestima e desempenho profissional
Pode haver isolamento social, principalmente quando infecções recorrentes limitam atividades
Importância de apoio psicoterapêutico e empoderamento com foco na resiliência emocional e autocuidado
Terapias florais como Cherry Plum (controle), Olive (exaustão), Crab Apple (limpeza interna) são indicadas conforme a abordagem holística
IGDH – Índice de Gravidade das Doenças na Hemocromatose: Sistema Imunológico
Grau | Descrição | Frequência Estimada |
---|---|---|
0 – Nenhum | Imunidade preservada | 25–30% |
1 – Leve | Fadiga leve, infecções esporádicas | 35–40% |
2 – Moderado | Quadro autoimune ou infecções recorrentes | 15–25% |
3 – Grave | Imunodeficiência funcional, risco infeccioso alto | 5–10% |