1. Manifestações Clínicas

A agressão sistêmica provocada pelo excesso de ferro na hemocromatose afeta direta e indiretamente os elementos do sistema linfático:

  • Linfadenopatia reacional discreta ou moderada (em especial mesentérica e retroperitoneal)

  • Hipoplasia linfonodal funcional (comprometimento da resposta imune adaptativa)

  • Maior suscetibilidade a infecções bacterianas, fúngicas e virais por disfunção na maturação linfocítica

  • Fadiga crônica relacionada à inflamação imunometabólica crônica


2. Fisiopatologia

O ferro, ao impregnar progressivamente o sistema reticuloendotelial (SRE), compromete:

  • A arquitetura dos linfonodos, com deposição pericapsular e cortical

  • A homeostase redox das células dendríticas e linfócitos T e B, afetando sinalização imunológica

  • A ativação de vias inflamatórias crônicas (NF-κB, NLRP3), contribuindo para inflamação estéril linfonodal

  • O turnover de linfócitos, com redução de T reguladores e proliferação de subtipos Th17 proinflamatórios


3. Diagnóstico

  • Imagem (USG abdominal ou TC): linfonodos pequenos, reacionais ou hipoativos

  • Béxames laboratoriais:

    • Linfopenia funcional

    • Aumento de citocinas inflamatórias (IL-6, TNF-α)

    • Redução de IgG, IgA e IgM (em fases tardias)

  • Béxame histológico (bopsia de linfonodo): pigmentação por hemossiderina em macrófagos sinusais


4. Tratamento

  • Controle da sobrecarga de ferro com flebotomias regulares (visando ferritina < 50 ng/mL)

  • Avaliação imunológica seriada e suplemento de vitamina D, zinco, selênio e probióticos

  • Evitar uso prolongado de imunossupressores não essenciais

  • Vigilância para surgimento de complicações infecciosas


5. Complicações Possíveis

  • Imunodeficiência secundária leve a moderada

  • Infecções oportunistas em casos de imunossenescência acelerada

  • Hipoatividade vacinal (resposta ineficaz a imunizações)

  • Maior risco de linfomas em contextos de inflamação crônica persistente


6. Prognóstico

  • O envolvimento linfático na HH tem evolução silenciosa, mas contribui para a imunossenescência precoce

  • Com o tratamento adequado e controle da ferritina, a função linfóide pode ser parcialmente restaurada


7. Histologia Microscópica e Macroscópica

  • Macroscopicamente: linfonodos com coloração castanho-escura, diminuição de volume e fibrose capsular discreta

  • Microscopia: macrófagos com grânulos marrons (hemossiderina), rarefação dos centros germinativos e diminuição de linfócitos B


8. Aspectos Psicológicos

  • O prejuízo imunológico gera sensação subjetiva de vulnerabilidade

  • Pacientes podem desenvolver ansiedade relacionada à exposição a patógenos

  • Recomenda-se abordagens integrativas: psicoterapia, florais, suporte grupal


9. IGDH – Índice de Gravidade das Doenças na Hemocromatose (Sistema Linfático)

EstágioCaracterística PrincipalPrevalência Estimada
IFunção linfóide preservada, sem alterações laboratoriais~60%
IIDisfunção linfocítica leve, linfopenia funcional discreta~25%
IIIImunodeficiência secundária, infecções de repetição~10%
IVComplicações linfoproliferativas (linfomas)<5%

Referências:

  • Brissot P et al. Hepcidin and immune dysregulation in HH. Hepatol Int. 2022.

  • Kaplan J et al. Iron overload and the immune system. Nat Rev Immunol. 2021.

  • Weiss G, Ganz T. Iron and immunity: A double-edged sword. Science. 2019.